Inteligência Coletiva, esse assunto sempre esteve perto de você e você não sabia!

Jean J. Michel
6 min readApr 8, 2021

--

Photo by ALAN DE LA CRUZ on Unsplash

Durante o último ano eu acompanhei no LinkedIn e em outras redes sociais o quanto as pessoas se esforçaram para estudar alguma coisa como idiomas, temas técnicos, obter certificações, etc. Havia uma aura pairando sobre todos no sentido de fortalecermo-nos nesse período em que economizamos tempo com deslocamento ao trabalho e vida social.

Depois de alguns meses notei um movimento contrário, pessoas com o discurso mais apaziguador e de menos cobrança por essa atitude, onde se permitiam apenas sobreviver ao que estamos atravessando e focando em saúde mental ou relaxamento.

De qualquer forma sempre houve uma cobrança sobre quem é da área de TI (tecnologia da informação) por se manter atualizado, saber tudo sobre os últimos 3893 frameworks JavaScript lançados nas últimas 24 horas, conhecer todas as tendências de arquitetura de software, por saber tudo de agilidade, desde Scrum até SAFE, passando por Kanban, OKRs e mantendo um pezinho lá no XP.

O que eu penso sobre isso? Mantenhamos a calma!

Nos moldes que comumente se pensa a inteligência no dia a dia, ou seja, a pessoa que sabe tudo daquele tema e com muita facilidade assimila mais conhecimento sobre aquilo ou correlatos daquilo, eu nem de longe me consideraria uma pessoa inteligente, no máximo eu sou esforçado e experiente, o que é bem diferente dessa definição. Adoraria ser como os amigos, conhecidos e colegas de trabalho alienígenas que tenho, que apenas de colocar a mão sobre um livro ou apenas lendo o resumo dos resultados trazidos pelo Google já aprendem tudo sobre um tema. Eu não sou assim, me considero muito lógico e racional, tenho que ler sobre o tema, achar uma aplicação para aquilo, pensar sobre isso… e aprender. Por isso que as experiências práticas me ensinam instantaneamente. Então eu tenho que ‘simular’ a experiência daquilo para aprender. Se algum psiquiatra, psicólogo ou neurologista estiver lendo isso aqui já deve ter feito meu diagnóstico: louco de pedra! 😊

Mas e daí, me sinto desconfortável com isso? Nem um pouco! Olhando pelo aspecto profissional eu sempre estive trabalhando muito bem acompanhado, e nunca aceitaria trabalhar sozinho naqueles tipos de empreitadas suicidas onde se tem uma pessoa fazendo tudo (levantar requisitos, programar, testar, implementar, prestar suporte, etc).

Uma frase que eu repito para mim mesmo como um mantra é: “a sala é sempre mais inteligente do que o mais inteligente da sala”.

Isso é inteligência coletiva.

Vamos a definição: “a inteligência coletiva é um conceito de um tipo de inteligência compartilhada que surge da colaboração de muitos indivíduos em suas diversidades”.

Ressalto: muitos, colaboração e diversidade.

O filósofo Pierre Lévy que estuda a informação e as interações entre a sociedade e as novas tecnologias da informação e comunicação diz que todas as pessoas possuem conhecimentos e inteligência. Porém o termo inteligência pode gerar confusão. Inteligência se trata de todas as faculdades humanas constituídas no decorrer da vida de cada indivíduo, incluindo suas experiências, capacidade de perceber, lembrar, aprender, imaginar etc. Logo Lévy parte do princípio de que todo ser humano tem inteligência, e que desconsiderá-la ou subestimá-la se caracteriza como o maior ato de ignorância a ser praticado e que isso destruiria a pessoa.

Ele vai além disso e diz que a chamada “sociedade da informação” mostra-se como uma farsa, pois essa nova economia gira em torno de algo que não pode ser mecanizado, a produção do laço social. Para ele, a produção de bens de consumo deveria promover um enriquecimento humano através do aumento da competência dos indivíduos e grupos, do incentivo a sociabilidade e ao reconhecimento recíproco e da criação de diversidade. Nessa concepção que tem a atenção voltada para o humano é necessário que as instituições e organizações abandonem formas rígidas e hierárquicas para dar lugar a da cooperação ativa dos membros que a compõem, além de promover a capacidade de iniciativa.

Você consegue ver aqui aqueles conceitos bem batidos hoje em dia sobre squads? Sobre empoderamento de times? Quem leu o meu post sobre autonomia e proatividade (Você que sabe! Uma conversa sobre autonomia e proatividade) eu cito o livro Este Barco Também é Seu que em muitos aspectos o indivíduo está sendo empoderado em grupo, pela inteligência ou capacidade do grupo e não individual.

Vamos contextualizar a coisa mais um pouco.

Ernesto Sirolli é um autor e palestrante italiano que atua com foco em desenvolvimento econômico local. E em uma apresentação no TED (que deixarei o link no rodapé) ele fala das suas aventuras trabalhando na África.

Ele explica que tudo que ele (representando os italianos) e os americanos, ingleses, franceses, etc. tentaram na África falhou, e conta um dos casos vivenciado por ele, onde o projeto era ensinar ao povo da Zâmbia como cultivar alimentos plantando tomates e abobrinhas em um vale ao sul do país.

Ele comenta que os locais não tinham interesse naquilo, mas participaram do projeto recebendo para isso e lá pelas tantas quando a plantação dos tomates estava no ponto de colheita uma manada de 200 hipopótamos surgiu a noite e comeu toda a safra. E então frente a desolação dos italianos os nativos apenas comentaram “é por isso que não cultivamos nada nessa área”.

A história é fantástica e rendeu ao Sirolli um livro chamado Ripples from the Zambezi.

Mas o resumo aqui é: se eu não mesclar a inteligência e a polarizar em um só lado ou poucos dos muitos lados disponíveis, a coisa desanda!

Vamos trazer para a TI?

Ao fim do ciclo de desenvolvimento de uma demanda, o desenvolvedor integra o código dele ao repositório e um dos processos chave para termos sucesso nessa operação é o Pull Request. Onde uma outra pessoa irá conferir o que foi desenvolvido e aceitará ou não integrar aquele código a base de códigos existente.

Isso é um contexto específico dentro do tema Inteligência Coletiva, é uma dinâmica de revisão paritária. Onde uma pessoa valida o trabalho da outra. Isso vai de encontro a uma outra frase que gosto muito que diz mais ou menos isso “uso não só o meu cérebro como todos os que estiverem ao meu dispor”. Infelizmente eu não lembro o autor para precisar a frase e dar os créditos.

Outro exemplo?

No feriadão de Páscoa eu maratonei uma web série de entrevistas com jogadores e dirigentes do Sport Club Internacional chamada Colorado Sagrado, disponível no YouTube. Em quase todas as entrevistas sobre o time multicampeão de 2006 e dos anos seguintes em que o Internacional ganhou diversos títulos expressivos, era a inteligência do grupo de jogadores (coletiva) que foi destacada como sendo a maior virtude daquele time.

E se olharmos aquele time de 2006 em diante ele era forte como time, não se tinha mesmo um craque no time levanto tudo nas costas sozinho.
Incrível.

Bem, para fechar aqui, lembra quando eu me analisei como não sendo uma pessoa inteligente? Eu não penso individualmente, eu nem posso me dar a esse luxo e ir contra o manifesto ágil que prega justamente o coletivo, eu sempre valorizei as experiências e isso vai de encontro com o empirismo, também base do Scrum. Se eu pensasse inteligência como apenas o cara que resolve o cubo mágico eu provavelmente também plantaria tomates e abobrinhas para alimentar hipopótamos e não as pessoas necessitadas na Zâmbia.

Gostou?

Deixa seu aplauso aqui no Medium para o texto ganhar relevância na plataforma e compartilha com seus amigos, colegas de trabalho e quem mais aches que irá gostar dessa reflexão aqui.

Se você quiser me ajudar de alguma forma, agora você pode me pagar um cafezinho na minha página no Ko-fi, https://ko-fi.com/jeanjmichel ;)

Link para a palestra do Enerto Sirolli no TED: https://www.ted.com/talks/ernesto_sirolli_want_to_help_someone_shut_up_and_listen/transcript?language=pt-br#t-72738

Abraço.

Me siga por aí:

LinkedIn: /jeanjmichel
Twitter: @jeanjmichel
Instagram: @jeanjmichel

--

--

Jean J. Michel

Agile Expert and father in Rio de Janeiro, Brasil. Lightweight geek with a incomprehensible passion for beautiful codes, cloud, agile, automobiles and cycling